sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Contos de terror: Os Quatro
















A noite chuvosa era a única coisa que se via pela pequena e suja janela da sala. Eu estava sentado no sofá, como de costume, apenas observando a chuva cair. Talvez esse fosse um dos meus passatempos favoritos, ou quem sabe o único. Já era tarde da noite, uma ou duas da madrugada, não sei ao certo, e mesmo assim o sono ainda não veio ao meu encontro.
Quem sabe se eu tomar uma xícara de chá poderei enfim dormir?

Levantei e fui até a cozinha, que assim como a janela da sala, também se encontrava suja. Mas a sujeira não me incomodava, afinal, depois de viver tanto tempo nesta casa ela acabou virando a única amiga que tenho.



Preparei o chá e logo fui para o quarto tentar dormir. Deitei-me e me perdi em meus pensamentos e loucuras, e nem percebi que o dia havia chegado. Foi tão rápido que penso em nem ter dormido. Fui para a sala e me deparei com uma cena estranha: Do outro lado da janela o céu se encontrava negro. “Como isso é possível? Já é dia”. Aproximei-me, curioso. Queria saber se aquilo era mesmo real. Quando a minha respiração embaçou a janela, um vulto preto em forma humana atravessou a mesma, quebrando-a.

Por puro reflexo me afastei, mas o ser me agarrou pelos braços e começou a me puxar para dentro daquele ambiente obscuro do qual ele tinha saído. Aflito, comecei a gritar para que ele me largasse, porém parecia tudo em vão. Parecia que minhas forças tinham ido embora. A cada segundo eu me aproximava mais daquela escuridão. Minhas forças tinham mesmo me deixado, e agora minha visão escurecia. Teria a morte me encontrado nesse fim de mundo?
Acordei assustado, suando frio. “Fora tudo um sonho?”. Olhei para fora, tudo aparentava estar normal. Ainda pensando no sonho que acabara de ter, sai da cama e resolvi ir para sala, onde o terror daquele pesadelo rondava incessantemente. Andei lentamente pelo corredor que ligava os dois cômodos, sentia um arrepio inexplicável na espinha. “Por quê?”. A primeira coisa que vi foi o pequeno e judiado sofá no seu canto. De certa forma me senti aliviado ao ver aquilo, mas no momento que adentrei por completo na sala, a janela onde tudo acontecera estava de fato quebrada, do mesmo jeito em que fora quebrada em meu sonho.

Ignorei as chances de que tudo isso poderia ser verdade, afinal, nunca acreditei que um sonho poderia se tornar realidade. Na certa deveria ser algum engraçadinho que queria chamar a atenção.

Limpei toda a bagunça, mas como consertaria a janela? Há tempos não saía de casa, me afastei da cidade porque muitos me achavam louco e não queriam que eu vivesse mais por lá. Não entendo por que, nunca fiz nada de mais para as pessoas daquela vila.
Deixei o estrago do jeito que estava. Coloquei apenas uma tábua de madeira e uns pedaços de papelão para não deixar um buraco em vão na parede da sala. Logo voltei para a minha rotina, esquecendo quase por completo o estranho sonho que tive.

A noite chegara rápido dessa vez, mas o sono nunca conseguia acompanhá-la. Hoje o tempo encontrava-se agradável. Nada de chuva ou nuvens. A lua iluminava boa parte dos cômodos da casa. Sentia-me confortável à sua luz, ela parecia me abrigar das más coisas desse mundo. Eu estava totalmente perdido no brilho daquele luar, mas não pude deixar de notar ao canto do olho que um vulto passara quase que despercebido pela cozinha. Mais curioso do que assustado, levantei do sofá e fui ver o que tinha sido aquilo. Teria alguém entrado em minha casa?
Procurei por algo com que pudesse me proteger, acabei achando só um velho guarda-chuva, mas serviria para o caso. Andei em passos lentos até a cozinha e nada achei por lá. Decidi então vasculhar a casa toda, passando primeiro pelo quarto e por último pelo banheiro.
Após essa louca perseguição, tudo parecia estar normal. “Talvez seja só a minha imaginação.” Virei para a porta do banheiro para sair de lá, e no momento que passei os olhos pelo sujo espelho sobre a pia, vi que meu reflexo havia mudado, apenas por um segundo, mas pude notar todos os detalhes. Minha expressão era séria, não possuía vida em minha face. “Terei ficado dessa forma?”. Corri para o quarto para me olhar no outro espelho. Estava tudo normal. Minha expressão havia voltado. “Apenas minha imaginação”.
Não é possível, eu não estou ficando louco. É só o cansaço. Mas por quê? Talvez fosse melhor eu dormir.

Acordei em um lugar escuro. Só conseguia ver o vasto tom negro que ocupava aquele lugar. “Como vim parar aqui?”. Até minha cama havia desaparecido ou sido tomada pela escuridão. Tentei achar alguma parede ou qualquer coisa na obscuridão, mas eu sentia que aquele lugar não tinha fim. Andei em frente, quem sabe chegaria em um grande precipício? Andei e andei, até que ao fundo uma figura branca começou a se formar. Um arrepio subiu pelo meu corpo. Estava paralisado. Mais e mais figuras apareciam e vinham em minha direção. Eu queria correr, mas parecia que algo segurava minhas pernas. Eu me sufocava em meus próprios gritos, quando as formas chegaram e pude ver claramente o que eram.
Abri meus olhos e levantei da cama como se tivessem me jogado. “Outro sonho?”. Sentei no canto da cama, ofegante. Notei que algo em minha casa estava errado. Todas as luzes estavam acessas. Mas me lembro de ter apagado antes de dormir. Levantei para apagar todas, novamente. Cheguei à sala e vi que ainda era de madrugada. Uma madrugada chuvosa. “Porque sentia arrepios?”. Ignorei esse fato e fui apagar a luz, mas antes que eu pudesse tocar no interruptor, todas as luzes apagaram sozinhas.

Um medo fulminante tomou conta de mim, pra piorar, a chuva começara a ficar mais forte, com raios e trovões acompanhando. Comecei a escutar risadas e conversas. Não conseguia entender o que queriam dizer. Corri para a cozinha, mas algo me puxou para trás com brutalidade. Lembro-me de ter batido a cabeça em alguma coisa.
Ainda desnorteado, tentei deixar de lado a tontura e a dor, então percebi que em uma das mãos eu segurava uma faca ensanguentada. “Como? De onde veio esse sangue?”.
Procurei por algum ferimento em meu corpo, mas não achei nada. Apenas minhas mãos estavam cobertas de sangue. Aquele sentimento de medo ainda não havia me deixado. Corri para o banheiro para lavar todo o sangue.

Sem luz e com toda aquela chuva, não conseguia enxergar direito por onde ia. Por sorte achei em uma gaveta uma lanterna e a usei para achar o caminho. Entrei rapidamente no banheiro e lavei minhas mãos e meu rosto. “O que está acontecendo?”. Voltei minha atenção para o mesmo espelho em que vi meu outro reflexo e vi que agora não só eu, mas outros quatro rostos estavam sendo refletidos. Com a luz da lanterna iluminando o fundo do banheiro, os quatro rostos estavam visíveis e um deles possuía um corte recente no lado direito deu seu rosto. Eram os mesmos do meu último sonho. Todos tinham uma expressão morta, cada um de um jeito macabro e sombrio, mas todos tinham algo em comum.
- Quem são vocês? – Perguntei
E como se tivessem ensaiado a fala, todos falaram ao mesmo tempo:
- Nós somos você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário