sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Contos de usuarios da web: O orfanato


Hoje deixo a vocês um conto do usuário do minilua, Flávio Vieira. Boa leitura! 

Prólogo:

orfanato

Muitos conhecem aquela figura adorável, e que nos passa um ar angelical. Mais a história que eu vou contar nada tem haver com o que as pessoas passam para a gente. Com o que agente realmente acha que é certo. Nós estamos tão acostumados a saber de tudo, que nos esquecemos de que somos apenas homens. Para alguns o meu relato pode parecer mentiroso ou até fantasioso, mais eu sei o que vi.



O início de Tudo.
Eu me chamo Paulo, sou restaurador de pinturas. Trabalho basicamente em igrejas e museus. Eu nunca tinha trabalhado em uma escola para freiras até então. Um dia estava em meu trabalho, restaurando uma pintura de são Jorge em uma pequena igreja, em um bairro lazarilho de minha cidade. Meu celular tocou, e como eu estava com as mãos sujas, pedi que o meu colega, e ajudante Jonas o atendesse.
-Alô! Eu escutei ele dizer, enquanto eu estava de costas trabalhando. –Ele está restaurando uma pintura no momento. Ele falou olhando para mim, no momento em que eu me virei curioso. -Tá bom! Eu vou perguntar a ele. É uma mulher chamada Elaine, ela está perguntando se você pode ir amanhã a um orfanato restaurar algumas pinturas.
Pensei um pouco, pois já tinha alguns compromissos, mais eram á noite.
–Diga a ela que eu posso sim, mais pela manhã.
E assim ele fez.
–Certo, amanhã pela manhã ele vai ai. Me passe o endereço.
Continuei trabalhando, enquanto o meu mais novo ajudante, amigo e agora secretário anotava o endereço. Algumas horas depois, eu terminei o meu trabalho, e como faço todos os dias fui para casa, comi um pouco e terminei o dia da forma mais divertida possível, para os que não têm para onde ir.
Assisti televisão até pegar no sono. Durante o meu sono mais profundo eu tive um sonho estranho, sonhei com o meu trabalho do dia seguinte, não me lembro direito como foi, mais pelo estado em que eu acordei, sei que não era bom, mais mesmo assim voltei a dormir.
O dia chegou, eu já tinha me acordado á algum tempo e já estava pronto para ir. Peguei minha mochila com meus materiais e o endereço do orfanato que meu ajudante havia me entregue. Saí de casa na minha bicicleta, daquelas que agente usa pra fazer trilha, mais que no meu caso era pra trabalhar. Não sei se eu escolhi o pior caminho ou se ficava longe mesmo, mais eu passei por várias ruas, até chegar ao local. O lugar era grande como uma chácara.
Era uma enorme casa de andar, dentro de um terreno amplo, e muito bem arborizado. Toquei a campainha e esperei. Uma senhora bem amadurecida (para não dizer velha) apareceu em uma das janelas do primeiro andar. Ela ficou lá me olhando até que eu gritei: “Eu vim fazer o trabalho de restauração senhora”. Ela nem se quer respondeu, apenas entrou novamente dentro da casa, para alguns minutos depois vir abrir a porta.
–Oi! Me chamo Paulo. –Eu me manifestei, e nada ela respondeu.
Outra Freira apareceu, vindo do jardim. Era uma senhora, não aparentava ter mais de sessenta anos, estava com uma pazinha de jardineiro na mão. Suas vestes eram padrão, como a de todas as outras freiras que eu já vi, só que mais sujas de terra. Ela veio até mim, eu já estava esperando ter dela a mesma recepção que tive da primeira.
-Olá! Eu me chamo Elaine. Sou a madre superiora daqui. –Ela estendeu a mão.
Segurei a mão dela meio desconfiado.
–Essa que abriu a porta para o senhor, e a irmã Ana. Ela não é de falar, então não se sinta ofendido caso ela não responda a uma eventual pergunta. Ah! Permita-me apresentar-lhe o orfanato.
Fiquei meio sem reação, mais mesmo assim eu a segui.
–Acredito que você não conheça o orfanato Santa Helena. Estou certa?
-Não senhora, eu não conhecia. –Respondi.
–Esse orfanato já tem mais de noventa anos de idade, já abrigou milhares de crianças abandonadas. Então o senhor já deve imaginar que temos muitas coisas para restaurar. –Ela se virou enquanto andava para olhar para mim.
–Sim senhora. – Eu repliquei animado.
Nós andamos até atrás da casa, e entramos pela porta da cozinha, o que me deixou um pouco desconfiado, mais logo que entrei pela enorme cozinha, cheia de "panelões" ao fogo bravo do velho fogão a lenha, eu vi o porquê de nós entrarmos pelos fundos da casa. Em sua sala estavam muitas crianças assistindo uma freira discursar. Eu não consegui contar quantas, mais tinham pelo menos umas cinquenta ou mais, entre meninos e meninas com pouca diferença de idade e tamanho entre eles.
Todos usavam uniformes iguais, diferenciados somente pelos sexos. Os meninos usavam calças longas, pretas com uma camisa branca marcada com o símbolo do orfanato, que de longe eu não consegui destingir qual era. As meninas usavam praticamente a mesma coisa, mudando somente a veste de baixo, que em vez de ser uma calça, era um "vestidão" preto, com a mesma camisa branca marcada com o símbolo do orfanato.
Subi as longas e largas escadas de madeira. Não consegui identificar qual era a madeira, mais era de um marrom bem escuro, e me pareciam muito bem conservadas. Continuei subindo as escadas, até chegar lá em cima. O andar de cima era muito luxuoso para um orfanato governado por freiras. Era muito amplo, com um corredor extenso repleto de portas que imaginei logo que seriam dos quartos das crianças. As paredes estavam cheias de pinturas, e muitas delas realmente necessitavam de reparos. Eram pinturas típicas de igrejas, com imagens de santos, e outras divindades da igreja.
Parei um pouco para contemplar as pinturas, mais logo minha atenção foi interrompida por um barulho de passos no extenso corredor à frente. Olhei para lá, e vi outra freira chegando até nós. Nunca vou esquecer daquele dia. Ela estava vestida com as mesmas roupas das outras, porém seu rosto estava desfigurado, enrugado e com a pele muito fina. Seus olhos lacrimejavam devido à pele extremamente esticada ao redor deles. Ela não tinha cabelo, parecia mais um desses monstros que nós vemos em filmes.
–Permita-me apresentá-los. Essa é a irmã Alice. –A irmã Elaine disse enquanto à outra freira ainda estava chegando. –Ela sofreu um acidente com fogo há alguns anos que queimou setenta por cento de seu corpo. Nós cuidamos dela e hoje ela nos auxilia aqui no orfanato.
–Prazer! –Eu disse esticando minha mão.
–O prazer é meu. –Ela respondeu apertando-a.
Sua voz era estranha, parecia muito grave para ser a voz de uma mulher e tinha um timbre que eu nunca tinha ouvido antes. Mais eu ignorei.
–Por onde a senhora quer que eu comece? –Eu perguntei, dirigindo-me a Madre Elaine.
-Pode ser pelo quadro de São Jorge, ele está bem deteriorado. -Nós olhamos para o quadro que estava logo a nossa frente.
–Certo! Começarei por ele. –Respondi ao mesmo tempo em que pegava meus materiais.
–Vamos? –Madre Elaine perguntou a freira Alice. –Vamos deixá-lo trabalhar em paz.
As duas começaram a andar e desceram pelas escadas. Eu comecei o meu trabalho. Analisei bem, onde o quadro precisava de mais restauração. Durante minha análise escutei um choro abafado de criança vindo de um dos quartos. O som fez um pequeno eco no egrégio corredor até chegar á mim. Pensei logo “Que porra é essa?”. Mais logo a razão me fez pensar que deveria ser só uma criança brincando então eu continuei meu trabalho e ignorei alquilo.
Comecei o trabalho de restauração, pelas bordas do quadro que estavam bem gastas. Alguns minutos depois, escutei o mesmo grito abafado, mais dessa vez algumas palavras saíram, alguma coisa parecida com “Ajuda”. Dessa vez eu não pude ignorar.
Comecei a andar vagarosamente até o corredor, atento a algum som. No último quarto alguma coisa caiu fazendo um som de vidro quebrando no chão. Eu corri até lá, entrei no quarto e comecei a vasculhar, sem sucesso. Eu nada encontrei. Virei-me meio assustado, e para o meu terror total a freira Alice estava atrás de mim.
-Você não pode entrar aqui! –Aquela voz medonha me deu um calafrio.
–E… Eu vi alguma… Eu ouvi alguma coisa vindo desse quarto.
Ela olhou fundo nos meus olhos. Aquele rosto desfigurado me assustava demais.
-Impossível, as crianças estão lá em baixo, não tem ninguém aqui.
-É. Acho que foi só minha imaginação. –Eu comecei a me retirar sendo observado pela freira.
Voltei para onde eu estava e recomecei o trabalho. Eu estava um pouco assustado, pois havia ouvido claramente gritos de criança. Mais decidi ignorar e me concentrar no trabalho para sair dali o quanto antes.
Fiquei lá por horas trabalhando até notar que a luz do sol já havia desaparecido. Já era noite. Virei-me ao ouvir um som de passos subindo as escadas. Eram as crianças, elas estavam subindo para dormir. Estranhamente nenhuma delas olhou para mim. Elas sequer olhavam para frente, sempre olhavam para onde estavam pisando. Pareciam robôs.
–O senhor já está perto de terminar. –Uma voz disse, assustando-me.
–Madre Elaine. Ainda falta muito, como à senhora sabe trabalhos de restauração levam tempo.
–Sim! Eu sei. –Ela olhou para o quadro que eu estava restaurando.
–Bom. Eu volto amanhã para terminar o serviço.
–Porque o senhor não dorme aqui? Nós temos um quarto de visitas no andar de baixo. Assim o senhor pode terminar cedo amanhã, e não se arriscará andar na rua há essa hora. Acompanhe-me. –Ela começou a andar.
-Não! Madre Elaine, eu vou para casa…
-Não seja rude. Eu estou lhe convidando para passar a noite aqui. –Ela me interrompeu.
Apesar de todos os meus instintos dizerem "Não" eu disse:
–Sim senhora.
–Certo! Acompanhe-me. –Ela sorriu.
Nós descemos as escadas, andamos pela ampla sala cheia de quadros estranhos. O que me chamou mais a atenção foi que na parede lateral da escada tinha um quadro de Giovanni Bragolin que ficava bem visível para quem entrava pela porta da frente. Mais como não sou supersticioso e não acredito nessas lendas eu não levei muito á serio muito pelo contrário achei até que combinava para um orfanato.
Elaine e eu saímos da sala, e andamos mais um pouco por um pequeno corredor cheio de janelas que davam vista total para a horta. Andamos mais até chegarmos a uma curva que dava para outro corredor cheio de portas. Pensei “Nossa! Que casa grande”.
–Esse é seu quarto por essa noite. –Ela apontou para a terceira porta.
–Obrigado! Mais e essas outras portas?
-Não se preocupe, não há nada depois delas. –Ela respondeu prontamente.
-Tá bom! –Eu disse.
Abri a porta do quarto.
–Nossa! Que quarto enorme.
-Nós gostamos de deixar nossas visitas muito bem confortáveis. Aproveite a noite. –Ela sorriu e começou a andar de volta.
Entrei dentro do quarto, fechei a porta e fiquei olhando para ele. O quarto era muito grande, uma cama pequena de solteiro fazia contraste com o tamanho exagerado do quarto. Nas paredes não havia nada, além de dois abajures pregados em duas paredes, um em cada, ficando de frente ao outro, proporcionando uma luminosidade parda, mais ainda sim confortável.
Próximo à cama havia uma cômoda pequena com uma bíblia em cima. Olhei para o piso que era de madeira, da mesma coloração da madeira das escadas, e que deveriam ser da mesma espécie. Tirei minha mochila das costas e a acomodei em um cantinho. Deitei-me naquela cama. Nossa! Como foi bom finalmente me deitar, parecia que eu não me deitava há dias. Fiquei lá olhando para o teto até pegar no sono.
Durante o sono eu tive outro sonho estranho que me trouxe o mesmo pânico do que tive antes de ir ao orfanato. No sonho, uma criança era consumida por chamas, enquanto à outra era dilacerada viva por uma freira usando uma faca. Eu só observava pasmo, até que a freira que estava matando o garoto olhou para mim. Seus olhos eram negros, sem pupila, somente pretos.
Eu acordei suado, me sentei na cama e enxuguei o suor do meu rosto. Depois de recomposto eu olhei para frente e vi o mesmo menino do sonho, mais dessa vez ele estava no meu quarto, suas vísceras estavam á mostra, saindo de seu abdome como uma cobra saindo de um buraco.
Ele estendia a mão para mim, como se quisesse ajuda. Eu fiquei anestesiado, não acreditava naquilo que estava vendo. Ele abriu a boca fazendo com que o sangue jorrasse dela. Um som estranho foi emitido por ele, um som estalado que foi ficando cada vez mais alto até virar um grito agudo de dor.
Eu me afastei rastejando pela cama até cair no chão. A cama cobriu minha visão, eu não podia ver o menino porque ela estava na minha frente. Juntei minha coragem e fui levantando a cabeça aos poucos para ver se o menino ainda estava lá. Mais não estava. Dessa vez eu tive certeza do que vi. Levantei-me rápido, abri a porta do quarto e sai pelo corredor correndo e gritando, na tentativa de acordar todos.
Mais nada aconteceu. Parei um pouco na sala e fiquei escutando o mórbido silêncio. Corri até as escadas e as subi. Fui até os quartos das crianças, mais as portas estavam trancadas. Gritei, bati com todas as minhas forças nas portas, até chegar a última, mais nada aconteceu. Fiquei parado esperando que minha mente me desse uma razão ou uma explicação óbvia para aquilo.
Escutei um som de passos na escada. Fiquei parado, pois o som era feito por mais de dois pés. Fiquei esperando até que uma figura horripilante de uma mulher apareceu. Ela estava de quatro, mais de uma forma totalmente diferente.
A parte posterior de seu tronco estava virada para cima, suas pernas e braços a apoiavam no chão, mais tinham sido extremamente contorcidos ao contrário, para isso. Sua cabeça estava virada para baixo e para mim, me observando, mais ela também estava contorcida de tal maneira que rugas em forma espiral se formaram em seu pescoço.
Eu fiquei impressionado e congelado de medo. A criatura, ou seja lá qual seu nome, gritou histericamente, seu grito era ensurdecedor. Ela veio correndo de quatro e gritando até mim como um animal. Comecei a forçar a porta para entrar, mais ela não abria.
Olhei para a criatura, ela estava a um metro de mim quando a porta se abriu. Entrei dentro do quarto e fechei a porta o mais rápido que pude. A criatura começou a bater na porta com uma força colossal. Meu coração batia tão rápido que doía no peito. Andei para traz, olhando a porta estremecer com a violência das batidas.
Lembrei-me de que alguém tinha aberto a porta, mais quem? Olhei para traz e não vi ninguém. Revirei o quarto a procura de alguém, mais nada encontrei. As batidas pararam. Eu fiquei parado, escutando, sem fazer um barulho sequer. Parecia-me que aquela coisa tinha ido embora. Andei até a porta para ver pela fresta da fechadura. Abaixei-me devagar e olhei. A fresta me dava uma visão muito limitada, eu apenas via a porta da frente, mais já era suficiente.
Levantei-me um pouco mais calmo, quando senti uma presença. Virei-me repentinamente. A criança que eu vi antes estava dentro do quarto, erguendo a mão para mim, mais ela não estava só. No chão próximo a velha cama com colchão de palha, havia um feto mutilado rastejando a minha direção. Ele estava nu, seus olhos eram totalmente negros, suas pernas haviam sido arrancadas e seu rastejar deixava um rastro de sangue no chão.
Ainda dava para ver parte de seu pequeno fêmur direito para fora. Ele parecia em decomposição a julgar pelas moscas ao seu redor. A criança gritou novamente chamando minha atenção para ela. Eu não pensei duas vezes. Abri a porta do quarto e saí em disparada pelo corredor. Ao me aproximar da escada, eu vi novamente a mulher ou criatura de antes. Ela estava perto do quadro que eu estava restaurando.
Ela se virou e olhou diretamente para mim, com aquele mesmo olhar faminto e vazio. Olhei para o corredor para ver se ainda dava para escapar, mais a criança e o feto mutilado estavam andando vagarosamente pelo corredor, como zumbis. Desci as escadas vertiginosamente. Corri até a cozinha. Lá estava uma mulher virada de costas para mim. Ela parecia estar cozinhando alguma coisa. O fogo estava aceso, com um daqueles "Panelões". Em cima. Ela trouxe uma colher grande á boca, parecia estar experimentando algum tipo de comida.
Eu me aproximei mais um pouco dela. "Olá!" – Eu disse. Ela parou. De mexer a colher que estava dentro da panela. “Eu estou precisando de ajuda”. –Expliquei. "É claro que está". –Ela se virou. Seu rosto… Bem ela não tinha rosto. Seu olho esquerdo estava para fora, pendurado em seu nervo óptico, o outro olho foi totalmente arrancado deixando no lugar somente um buraco de onde um líquido purulento era expelido, e escorria por sua face dilacerada.
Seu nariz fora arrancado, somente dois buracos com parte de um osso exposto foi deixado no lugar. Seus lábios inferiores também foram arrancados, ficando seus dentes de baixo, amostra. Saliva escorria pela abertura e pingava em seu uniforme de empregada, totalmente carbonizado. Curiosamente, seus lábios superiores estavam intactos, e o que me chamou a atenção foi que ainda tinham resquícios de batom vermelho neles.
–Por favor! Eu posso te ajudar. –Eu expliquei.
–Infelizes sejam os impuros, que inundam o inferno, e que apodrecem nosso mundo. –Ela pegou uma faca de cozinha que estava em cima da mesa a sua frente. –Sua luxúria e ganância são repugnantes. –Ela ria histericamente ao mesmo tempo em que proferia essas palavras. A empregada desceu a faca até seu vestido queimado, o levantou com a ponta da faca, segurou com sua outra mão e começou a cortar, como se estivesse cortando um pão. Ela retirou toda a sua vagina usando a faca. Comecei a vomitar ruidosamente. -Não é isso que você quer? –Ela gargalhava enquanto erguia sua vagina arrancada.
Mesmo com o estômago embrulhado eu saí da cozinha, corri até a porta da frente. Comecei a bater e a chutá-la na tentativa de á arrombar, mais a porta era de mogno, muito resistente. Escutei um barulho vindo de traz de mim. Eram a criança, o feto, a empregada e a garota contorcida. Eles estavam vindo até mim. Olhei para frente e vi uma estatueta em cima de uma mesa cheia de flores encostada na parede a minha frente.
Corri depressa até lá e a peguei. Não tive tempo de ver de que era a estatueta. Corri novamente até a porta, que tinha duas janelas grandes de vidro. Usei a estatueta para quebrar uma das janelas. Milhares de pedaços de vidro voaram pelos ares. Olhei para traz, o garoto já estava muito próximo de mim. Não pensei duas vezes, pulei pela janela quebrada.
O garoto segurou atrás da minha camisa, quando eu já estava quase fora. Ele foi seguido da empregada que também agarrou minha camisa. Os dois gritavam e falavam línguas que eu não compreendia. Eles me puxaram para traz, os vidros estilhaçados da janela fizeram um corte profundo em meus braços, mais mesmo assim eu tive força.
Apoiei a sola de meu sapato na porta e empurrei para frente. Minha camisa se rasgou, mais eu consegui me livrar daquelas mãos que me seguravam. Os dois ficaram dentro da casa grunhindo como animais.
Virei-me para a horta aliviado por ter saído da casa. Porém no terreno à frente da casa estavam todas as crianças do orfanato, sentadas formando um circulo em volta de uma grande fogueira. Forcei um pouco a vista para ver o que estava dentro da fogueira. Sim! Era uma menina. Ela estava despida, se debatia e gritava de dor, enquanto o fogo consumia sua carne. Dei mais uma olhada. "É ela!”.
Eu disse a mim mesmo. A madre Elaine estava presidindo aquele ritual macabro, seguida da Freira Alice, que para o meu espanto estava com o rosto totalmente normal. Fiquei calado, porém boquiaberto. Comecei a dar alguns passos para direita, lentamente para não ser notado. Mais de repente todos viraram suas atenções para mim. A madre Elaine me apontou o dedo, ela parecia furiosa. Virei-me para frente já pensando em correr, quando recebi um golpe na cabeça e caí ao chão.
Acordei com a vista enevoada e turva. Minha cabeça estava doendo muito, mais logo escutei um som que chamou a minha atenção. Era um som de sirene. Ergui meu corpo rápido e vi que estava deitado em uma maca, rodeado de viaturas da polícia.
–Fique calmo amigo você está bem agora. –Disse um bombeiro.
–Onde eu estou? –Eu perguntei.
Um policial segurando uma prancheta se aproximou.
–Bom amigo! Ao que me parece você dormiu aqui. –O policial respondeu.
-Não eu não dormi. Eu fui chamado ontem para restaurar alguns quadros aqui.
O bombeiro e o policial se olharam.
–Amigo! Isso é impossível. Esse orfanato pegou fogo em novembro de 1997. Eu atendi a ocorrência no dia. O Fogo começou de madrugada, no último quarto do corredor, no andar de cima. No quarto da freira… –Ele coçou a cabeça. –Ah! Alice o nome dela. Ela morreu por asfixia devido a fumaça e seu corpo foi parcialmente queimado. Todas as crianças e freiras do orfanato morreram exceto a madre superiora Elaine que na ocasião estava viajando…
–O que? –Tentei me levantar, mais fui contido pelo bombeiro.
–Espere! –O policial retrucou. –Eu ainda não terminei. Nós investigamos e descobrimos indícios de que as freiras estavam usando as crianças em rituais satânicos. Nós não descobrimos o motivo do incêndio, mais estranhamente somente um quadro não foi queimado. O quadro de Giovanni Bragolin.
–O quadro da criança chorando que estava pregado na parede lateral da escada?
–Esse mesmo. Como sabe? –Ele indagou.
Coloquei minha mão na cabeça e me deitei novamente na maca.
 -Você disse que foi chamado ontem para trabalhar não é?
–Sim! –Respondi prontamente.
-Nós recebemos uma ligação do seu ajudante. Deixe-me ver… –Ele folheou a prancheta. Jonas! É esse o nome. Ele nos ligou ontem, e nos disse que fazia 15 dias que você estava desaparecido.
–Quinze dias? Isso não é possível. –Respondi pasmo.
–Sim! Quinze dias. Ele nos contou que você tinha recebido uma ligação e veio até aqui. Nós viemos te procurar, e o encontramos deitado na porta do orfanato.
Olhei para o orfanato. Ele estava totalmente queimado, em ruínas. Bem diferente de quando eu vim aqui. Todas as plantas ao redor foram queimadas. A mata cobriu totalmente a horta. E todos os vidros estavam estilhaçados.
–Meu deus do céu. Eu tenho que ir à casa do Jonas.
Levantei-me da maca.
–Mais você não está bem. Disse o bombeiro.
–Deixe-o ir. Respondeu o policial.
Peguei minha bicicleta que ainda estava onde a deixei e fui até a casa do Jonas. Minha mente estava perturbada, eu não sabia o que tinha acontecido. Na verdade eu não sabia de nada. Cheguei à casa do Jonas, que não morava longe dali. Bati na porta com força.
-Já vai! –A mãe dele respondeu.
Esperei um pouco, ansioso. Ela abriu a porta.
–Paulo? –Ela estava visivelmente espantada de me ver.
–Onde está o Jonas? –Perguntei nervoso.
–Faz quinze dias que você não dá notícias, ele ficou preocupado e ligou pra polícia. Mais ele não aguentou esperar, ele quis ir até o Orfanato atrás de você, porém quando ele ia, o telefone tocou…
–Uma ligação? De quem? –Retruquei.
–Deixa eu me lembrar… Ah! Elaine o nome dela. Ela o chamou para ir até o orfanato.
–Meu deus! Isso faz quanto tempo? –Segurei nos braços dela.
–… Ontem.
Epílogo:
Coisas como as que aconteceram comigo fazem agente pensar que não somos nada, nós não sabemos de nada. Nós somos apenas poeira ao sabor do vento. Mais mesmo assim, mesmo sabendo que sou só um homem. Eu vou voltar lá.

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